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DISTÚRBIOS DE MEMÓRIA

          A memória antigamente era vista como um processo relativamente simples, classificada apenas em curta e longa duração. Hoje sabe-se que múltiplos circuitos estão envolvidos e que ela pode ser abordada de diversas formas. Este texto  tem por objetivo apresentar esta forma de classificação da memória, chamando atenção para as principais patologias que a afetam e sua identificação.
As funções de memória são vulneráveis a diversos processos patológicos, incluindo doenças neurodegenerativas, derrames, tumores, traumas encefálicos, hipóxia, cirurgias de grande porte, depressão, ansiedade e envelhecimento normal. Assim, os distúrbios de memória são freqüentemente encontrados em diversas situações clínicas e por diversos profissionais de saúde. O correto entendimento de como se processam as informações no Sistema Nervoso Central é fundamental para diferenciar os processos que merecem mais atenção daqueles que podem ser resolvidos com medidas mais simples. Mais do que simplesmente classificar os distúrbios de memória em processos de memória de curta duração e longa duração, hoje a memória é classificada de forma um pouco mais complexa, envolvendo diversos locais do cérebro. Assim, procuramos salientar os principais tipos de memória e as patologias envolvidas nestes processos.
A memória episódica é um tipo de memória explícita e declarativa, isto é, conscientemente percebida e recapitulada. É utilizada para lembrar histórias curtas ou o que comemos no jantar de ontem, por exemplo. O centro do sistema nervoso responsável por grande parte desta memória é o lobo temporal médio e ela tem duração de alguns minutos até anos. Lesões que afetam esta memória causam amnésia anterógrada, ou seja, perda de memória próxima ao insulto, perda de informações aprendidas recentemente, mas manutenção de informações antigas. Também participa desta memória o lobo frontal, que funciona como um organizador temporal e de lógica das informações. Em situações de perda desta porção do cérebro, há distorções na memória com inclusão de informações inexistentes ou mistura de informações em tempos ou contextos diferentes. Patologias associadas a distúrbios neste tipo de memória incluem os traumas (até mesmos leves), doença de Alzheimer e demências de vários tipos. Testes como o Mini-Mental podem auxiliar no diagnóstico desta perda da memória episódica.
Memória Semântica, ou declarativa e explícita, e um tipo de memória que  envolve a retenção de informações de conceitos e conhecimentos de fatos, como a cor de um animal ou o primeiro presidente do Brasil. O local do cérebro responsável por esta memória é um pouco mais diverso que a memória episódica, mas se concentra, sobretudo nos lobos temporais ínfero-laterais. As patologias que frequentemente envolvem esta memória são a doença de Alzheimer (que, porém tem curso independente da perda de memória episódica), além de encefalites e lesões cirúrgicas e tumores. A suspeita de perda deste tipo de memória se dá na incapacidade de um indivíduo nomear objetos que ele já conhece previamente. A perda de alguns nomes é relativamente normal com a idade, mas em graus avançados esta perda deve ter sua etiologia pesquisada.
A memória de procedimentos é não declarativa, mas pode ser tanto explícita quanto implícita (aprender a numeração de um conjunto de teclas de telefone, por exemplo). Este tipo de memória aparece em nível inconsciente toda vez que utilizamos alguma habilidade de forma automática. É importante lembrar que este tipo de memória é independente das demais. Assim, mesmo em pacientes com formas avançadas de perdas dos demais tipos de memória, esta ainda pode ser retida de maneira quase integral. O local do sistema nervoso responsável por esta memória é o cerebelo e os núcleos da base, bastante distintos da memória episódica ou semântica. A principal patologia a afetar este tipo de memória é a doença de Parkinson, que pode ser identificada muitas vezes na incapacidade de aprender novas habilidades ou na perda de habilidades adquiridas previamente.

Memória de Trabalho: neste tipo de memória declarativa e explícita, há a combinação de memórias de curto prazo com concentração e atenção. É a memória utilizada para manipulação temporária de informações e requer o uso de informações fonológicas (“gravar” um telefone na cabeça, por exemplo) e espacial (guardar um caminho específico). Localizada na região pré-frontal, esta memória está, sobretudo concentrada no lado direito do cérebro, mas em casos mais complexos envolve também o lado esquerdo num amplo circuito neuronal. As patologias neurodegenerativas (Alzheimer, Parkinson, etc) são as principais responsáveis por esta disfunção, que pode ser percebida pela inabilidade de concentração ou atenção inicialmente, evoluindo para dificuldade de completar tarefas que envolvam múltiplas instruções.
A memória, longe de ser um sistema simples, envolve diversos locais distintos do cérebro e pode ser afetada de inúmeras maneiras. O correto entendimento de suas distinções pode auxiliar no processo diagnóstico e na melhor forma de manipulação da mesma, mas o mesmo deve ser feito sempre por um médico especialista.
Conhecido os tipos de memória é sempre bom afirmar  que lapsos de memória podem ocorrer provocados pela sobrecarga de atividades comum nos dias de hoje. Se não houver, porém, nenhuma doença que justifique essa perda, com exercício e atenção é possível manter o bom funcionamento da memória.

 É importante familiares ficarem atentos a atitudes relacionadas a memória  - tanto de jovens, adultos ou idosos e se você achar que a perda de memória está piorando ou o sintoma está interferindo com suas atividades diárias, agende uma consulta médica para determinar a causa e o melhor tratamento.        

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