CUIDE-SE PARA PODER CUIDAR
Não podemos
afirmar que a pandemia do coronavírus está perto do fim, apesar da pequena
trégua, tudo ainda pode acontecer. O que temos de certeza neste momento é a
situação delicada que milhões de famílias ficaram com todos acontecimentos
deste dois últimos anos. Foram sofrimentos físicos e emocionais, que instalaram
na sociedade atual um novo conceito – as famílias vítimas do Covid 19. Estas famílias se juntam as famílias de
pessoas acometidas com patologias que precisam de cuidados permanentes e
precisam do nosso talento quando a doença desafia o nosso senso de controle. As
sequelas do Covid terminam num prazo curto para alguns e longos para outros, ao
contrário, de outras patologias que quadro se arrasta até o fim, este texto faz
uma reflexão sobre o estado de saúde de quem cuida de doentes.
A família e o paciente enfrentam a incerteza
associada com o aparecimento e o resultado da experiência de uma doença mais
grave. No início, pode ser apenas a necessidade de supervisionar a medicação ou
a alimentação. Com o tempo de evolução da doença, os cuidados podem se estender
até a necessidade de cuidados totais, com banho, uso de fraldas, acompanhamento
do sono, curativos, além da alimentação e da companhia.
O cuidador principal, a pessoa que está em
contato íntimo com o paciente e sua família no cotidiano sofre as pressões e
tensões da assistência no cuidado.
A maioria dos cuidadores familiares (63%) morrem antes do que as pessoas
que estão sendo cuidadas por eles próprios. Este é um reflexo da sobrecarga
física e emocional a que são submetidos os cuidadores familiares.
Pesquisas apontam que a partir do segundo ano como cuidador familiar, o
nível de estresse chega a tal ponto que o cuidador pode perder o controle
emocional e desenvolver doenças pela falta de cuidados próprios.
As famílias geralmente "elegem" um cuidador e este entra numa
espiral sem direito a descanso, sem tempo para cuidar de si ou dos seus
interesses. Cuidadores familiares acabam por abandonar seus planos
profissionais, ficam isolados socialmente e não recebem apoio dos demais
familiares.
O foco do cuidador familiar é o doente que ele cuida, não restando
qualquer atenção para si próprio, ocasionando a morte do cuidador (ou a sua
incapacidade de cuidar) ao passo que aquele que é cuidado seguirá recebendo a
atenção necessária. Se não pelo cuidador afetado, por um substituto que, enfim,
surgirá.
Seria interessante e muito salutar que as Unidades Básicas de Saúde
criassem grupos de apoio aos cuidadores. Um espaço onde possam ter seus
anseios, dúvidas e dores ouvidos. Ondem possam receber orientação de
profilaxia, de prevenção de lesão e de cuidados de saúde para eles
mesmos.
Este é um movimento que vem surgindo, timidamente, nos hospitais que
tratam doentes com diagnósticos degenerativos ou incapacitantes e que acolhem
seus cuidadores e familiares.
Cuidar não é fazer pelo outro, mas, sim, fazer junto, com o outro.
Cuidar é sobretudo respeitar as particularidades individuais, reconhecendo-se
nesse processo.
É muito difícil conseguir lidar com essa nova realidade sem o apoio
externo. Muitas vezes é necessário delegar funções, pedir ajuda e equilibrar as
novas responsabilidades. Às vezes, parece claro o quanto necessitamos de auxilio,
mas se não dissermos, não externarmos para os outros, fica o sentimento de que
está tudo certo e você está dando conta.
Ter um tempo para você não é um luxo, é algo indispensável para manter
suas atividades no médio e longo prazo. Descansar, se distrair, manter a
própria saúde mental é um dos principais pontos para conseguir seguir em
frente.
Sempre que possível, invista em autocuidado, tenha alguém de confiança
para poder revezar e tenha consciência de que as tarefas não serão feitas
exatamente da mesma forma que você faz.
Tire pelo menos uma hora do dia para você, tenha o seu momento. Não
existe receita, faça o que funcionar melhor para você: pode ser uma atividade
física, um hobby, sair com um amigo para tomar um café, ir ao cinema, fazer
terapia, meditação, enfim, qualquer coisa que permita que você possa se
desligar durante um momento, desabafar, descarregar o estresse.
Não se esqueça: cuide-se para poder cuidar.
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