POR UMA FARMÁCIA COM MENOS
PRATELEIRAS E MAIS CADEIRAS
Se observarmos melhor os movimentos em torno da profissão farmacêutica e o
exercício profissional na farmácia comunitária em todo o mundo, podemos perceber
que uma grande mudança está ocorrendo no decorrer dos últimos anos, uma
verdadeira crise cultural envolve as relações entre a sociedade e a farmácia. O
farmacêutico como profissional da saúde especialista no medicamento, precisa
entender que se manter o seu papel apenas na elaboração e dispensação de
medicamentos tornará sua atividade pouco valiosa ou dispensável.
Paralelo a isso, precisa perceber que o próprio ambiente, os tipos e produtos
disponibilizados e os serviços prestados, de maneira descaracterizada, não contribuem
para que a população enxergue a farmácia como estabelecimento de saúde.
Uma nova realidade centrada na promoção a saúde, na educação em saúde, e no
paciente, ator vivo no sucesso terapêutico, exige um novo modelo de profissional e
também um novo modelo de farmácia, para nos referirmos a essa farmácia, que
entendemos que venha a atender as necessidades sociais e físicas dos serviços
farmacêuticos, escrevemos este texto para explicitar o que pensamos do termo nova
farmácia.
Sabemos que saúde é uma síntese - a síntese de uma multiplicidade de processos, do
que acontece com a biologia do nosso corpo, com o ambiente que nos rodeia, com as
relações humanas e sociais, com a economia e a política. Sabemos que vivemos um
modelo de saúde curativo e baseado na ausência de enfermidades, que privilegia o
desenvolvimento tecnológico e dos fármacos e que conta com o apoio dos diferentes
atores participantes deste modelo, seja por inércia, ignorância ou conveniência.
Sabemos que a saúde tem quatro grandes inimigos: a pobreza, os estilos de vida, a
situação global ambiental e a violência. Porém, mais do que tudo, sabemos que um
sistema de saúde efetivo deve concentrar-se muito mais na prevenção de doença e na
promoção da saúde e é neste sentido que um estabelecimento como as farmácias,
pode desempenhar um papel fundamental no descongestionamento do sistema em se
tratando das questões de atenção primária à saúde. Suas ações devem ser alinhadas e
complementares ao quadro geral de atividades e programas, sejam eles públicos ou
privados, do sistema de saúde local.
A essência da atividade da farmácia e seu papel é a provisão de medicamentos e
outros produtos para a saúde garantindo o cuidado, a orientação, a segurança e a
observação dos efeitos de seu uso, assumindo responsabilidade em contribuir com a
prescrição racional e econômica, bem como o uso adequado de medicamentos. A
preocupação primordial do farmacêutico deve ser o bem-estar, em todas as
circunstâncias, dos pacientes ou usuários dos produtos e serviços de sua farmácia e da
comunidade onde ela está inserida. E seu foco deve ser no sentido de entender as
necessidades do ambiente que o rodeia.
A grande mudança no “ser farmacêutico” está em enxergar que o medicamento é um
meio e não um fim na obtenção dos objetivos terapêuticos de qualquer tratamento
farmacológico. Para atuar desta forma o profissional deverá desenvolver-se na prática
da atenção farmacêutica que compreende atitudes, valores éticos, comportamentos,
habilidades, compromissos e co-responsabilidades na prevenção de doenças,
promoção e recuperação da saúde.
O farmacêutico, precisa entender que sua atividade tem um fundo comercial, e óbvio
que todos precisam ser remunerados, mas não através da venda desnecessária de
medicamentos, de promoções como “pague um e leve três”, que as farmácias
passarão a ser estabelecimento de saúde. O lucro não pode sobrepor a valor da saúde
de cada pessoa e nem a concorrência desleal e desumana.
Discutir este novo conceito de farmácia não tem qualquer intenção de apagar a
realidade à nossa volta. O propósito é inspirar os profissionais farmacêuticos a
projetarem sua atuação para além do medicamento, interferindo decisivamente na
saúde coletiva.
Repensar sobre nossas atividades através de mudança de foco, de melhorias contínuas
é mudar nosso conceito sobre o estabelecimento farmácia, que pede menos exibição
dos medicamentos, maior variedade de outros produtos para a saúde, menos balcões
e mais mesas e cadeiras com mais tempo para o atendimento individualizado, um uso
correto do auto-serviço - que não facilite compra de medicamentos por impulso, mais
investimento em estrutura física- com montagem de consultórios farmacêuticos, além
de tornar fundamental um equilíbrio entre tecnologia e humanidade.
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